Debatia-se a Raposa
num poço lôbrego e fundo,
ovê espreitando um bode
com um ar meditabundo.
"Compadre se andas com sede
e queres água bem fresquinha,
dá um salto cá pra baixo
que está é boa e limpinha".
Pula o bode e logo a astuta
ao dorso e chifres lhe salta,
e assim chega á superfície
que antes era muito alta.
Olha! Agora-grita-lhe ela-
fica-te aí com paciência.
O que te sobeja em barab
falta-te em inteligência.
in Vulpes Fabulosa de Elviro Rocha Gomes, 1960
Este é um blogue em memória do meu pai, Elviro Augusto Rocha Gomes, poeta e escritor. Aqueles que quiserem adicionar poemas ou excertos de textos da autoria do meu pai, serão bem vindos. Muitos são versos cómicos, com uma inocência e candura que espelham a personalidade única do autor, que adorava “entreter”. Mas também há os poemas sentidos, que nos fazem sonhar e os poemas críticos às injustiças do mundo que nos fazem pensar.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
A Raposa e o Galo
Diz a Raposa pró Galo:
-Que lindo que você vai!
Mas aposto que a cantar
não é melhor que seu pai!
Vai o Galo, fecha os olhos,
faz uma demosntração,.
Có-có-ró-có! grita ele,
inchado de presunção.
Sem mais aquela, a ladina
dali o arrebatou,
causando espanto na gente
que tal caso contemplou.
-Senhora, não vês que gritam
que o galo é deles? Não ouves?
Diz que é só teu e bem teu
a ver se assim os comoves!
Ora tal que o Galo disse
parece que a convenceu
pois ele abriu a bocarra
e disse: "Este galo é meu!"
Fugindo da boca aberta,
volta o Galo á capoeira,
contente por ter escapado
à Raposa traicoeira.
in Vupes Fabulosa de Elviro Rocha Gomes, 1960
-Que lindo que você vai!
Mas aposto que a cantar
não é melhor que seu pai!
Vai o Galo, fecha os olhos,
faz uma demosntração,.
Có-có-ró-có! grita ele,
inchado de presunção.
Sem mais aquela, a ladina
dali o arrebatou,
causando espanto na gente
que tal caso contemplou.
-Senhora, não vês que gritam
que o galo é deles? Não ouves?
Diz que é só teu e bem teu
a ver se assim os comoves!
Ora tal que o Galo disse
parece que a convenceu
pois ele abriu a bocarra
e disse: "Este galo é meu!"
Fugindo da boca aberta,
volta o Galo á capoeira,
contente por ter escapado
à Raposa traicoeira.
in Vupes Fabulosa de Elviro Rocha Gomes, 1960
sábado, 20 de fevereiro de 2010
O desenho do barco
Começa o barco a desenrolar
uma faixa de seda branca
sobre o roupão de veludo do mar
Eu no cais
é que estou numa ponta
a segurar;
mas deixo-a fugir
e a fita enrola-se toda
e vai-se unir
ao barco
do outro lado do Mar...
in "Desenhos de Alma" de Elviro Rocha Gomes, 1964
uma faixa de seda branca
sobre o roupão de veludo do mar
Eu no cais
é que estou numa ponta
a segurar;
mas deixo-a fugir
e a fita enrola-se toda
e vai-se unir
ao barco
do outro lado do Mar...
in "Desenhos de Alma" de Elviro Rocha Gomes, 1964
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
O sul do meu país
Onde o sol gosta mais de repousar,
onde o mar á mais quente e mais feliz,
onde no inverno há árvores a cantar,
onde as mulheres são belas e gentis
onde há lendas voando pelo ar,
onde as flores têm mais fúlgido matiz,
onde o vento é um dúlcido acenar,
aí é que é o sul do meu país
Aí é que é o sul de Portugal
onde o céu é um canto triunfal
e a terra um corridinho inebriante.
E o mar a esticar e a encolher,
com ondas a subir e a descer
é o harmónio rúbido e galante...
onde o mar á mais quente e mais feliz,
onde no inverno há árvores a cantar,
onde as mulheres são belas e gentis
onde há lendas voando pelo ar,
onde as flores têm mais fúlgido matiz,
onde o vento é um dúlcido acenar,
aí é que é o sul do meu país
Aí é que é o sul de Portugal
onde o céu é um canto triunfal
e a terra um corridinho inebriante.
E o mar a esticar e a encolher,
com ondas a subir e a descer
é o harmónio rúbido e galante...
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O sul do meu país de Elviro Rocha Gomes 1960
O Regresso
Rua íngreme, longa e sinuosa
que vista cá de baixo, desanima
Mas, mesmo assim, em marcha vagarosa,
um pai arfando vai por ela acima
Sem côr de vida sobre a tês suosa
quem vê o triste seu penar lastima
Pende-lhe o corpo em mole desgraciosa
Verga o pau a que o mísero se arrima
Tanto pode no homem a vontade
que súbito reganha agilidade
e as pernas esquecem-se das dores.
É que o pai avista, sorridentes
correndo a ele a mãe e os inocentes
que são a sua vida, os seus amores.
que vista cá de baixo, desanima
Mas, mesmo assim, em marcha vagarosa,
um pai arfando vai por ela acima
Sem côr de vida sobre a tês suosa
quem vê o triste seu penar lastima
Pende-lhe o corpo em mole desgraciosa
Verga o pau a que o mísero se arrima
Tanto pode no homem a vontade
que súbito reganha agilidade
e as pernas esquecem-se das dores.
É que o pai avista, sorridentes
correndo a ele a mãe e os inocentes
que são a sua vida, os seus amores.
Um passeio (extracto)
.....
Orvalhos finos gotejando
de folhas gráceis e traquinas,
pássaros vivos, chilreando
áreas furtivas, pequeninas,
ribeiros
brejeiros,
e gado
pasmado
e crianças a sacudir a atmosfera
e uma bandeira de sol a gritar Primavera,
e uma montanha humorista
a fingir-se pequena atrás dum telhado,
tudo isto era verdade antes mal vista,
ou apenas dum lado,
contudo era verdade sem deslizes
brotando do real fundo
do mundo
Orvalhos finos gotejando
de folhas gráceis e traquinas,
pássaros vivos, chilreando
áreas furtivas, pequeninas,
ribeiros
brejeiros,
e gado
pasmado
e crianças a sacudir a atmosfera
e uma bandeira de sol a gritar Primavera,
e uma montanha humorista
a fingir-se pequena atrás dum telhado,
tudo isto era verdade antes mal vista,
ou apenas dum lado,
contudo era verdade sem deslizes
brotando do real fundo
do mundo
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O Longe e o Perto de Elviro Rocha Gomes 1960
Passarinho preso (extracto)
Meu passarinho
redondinho
e gordo,
do calor do
ninho
quem te
tiraria?
Gente astuta e fria?
....
Se a vida é já ida,
pouco doi o resto.
redondinho
e gordo,
do calor do
ninho
quem te
tiraria?
Gente astuta e fria?
....
Se a vida é já ida,
pouco doi o resto.
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O Longe e o Perto de Elviro Rocha Gomes 1960
Deixaste cair uma rosa
Deixaste cair uma rosa na minha inanição
e minha províncias se alagaram em júbilo
Agora a tua rosa canta nas festas das minhas províncias
e rege música sinfónica
nas minhas catedrais
Deixaste cair uma rosa sem pensar
muito naturalmente,
e eu não sei se te caíu do olhar
ou da voz
ou do teu ar,
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