Se és capaz de estar firme, enquanto em teu redor
da demência geral te dizem causador!
se confias em ti no meio de suspeitas
mas dos outros as dúvidas respeitas;
se podes esperar e nunca desesperas
ou à perfídia opões atitudes sinceras;
se te sabes odiado e não queres odiar,
se te julgas santo ou sábio no falar,
se altos sonhos possuis sem ser deles escravo,
se pensas mas pensar não é só o teu alvo
se enfrentas o desastre e a vitória
como uma coisa apenas transitória;
se podes suportar que parvos e alarves
armem ciladas vis às tuas sãs verdades,
ou ver ruir aquilo que tens mais estima
e com má ferramenta o ergues ao de cima,
se pegas no que tens em alta conta
e podes arriscar como se fosse de pouca monta,
e perdes tudo e voltas ao início
sem do desaire teu mostrares indício;
se, mesmo após te veres a fraquejar,
podes encontrar força para lutar
e assim consomes essa força tua
enquanto a alma grita«Continua»;
se podes entre a turba ter pureza
e ser modesto ao pé da realeza,
se nem os de má-fé nem amigos te ofendem;
se confiam em ti mas não de mais se prendem;
e se um minuto só, que não perdoa,
podes encher coa tua alma boa,
então o mundo inteiro possuirás
e tu serás um homem, meu rapaz!
in "Octopa" de Elviro Rocha Gomes