domingo, 16 de dezembro de 2012

Um Algarve desaparecido

Burrico algarvio

Meu burrico algarvio
pela estrada fora aos pulinhos!
Meu burrico envolto em pó
de esburacados caminhos!

Tu és o rei da paisagem
com o teu fato cinzento.
Bichos velozes com pneus
não têm o teu luzimento.

Nem faróis de Cadilacs
nem o motor mais possante
valem teus olhos serenos
ou teu focinho ondulante.

A Faro leva legumes,
outras coisas de lá trazes.
Transportas homens, mulheres
ou demónio de rapazes.

Arre,burro duma cana,
arre rei dos animais!
Modesto, sóbrio, pacífico,
que há-de a gente exigir mais?

Meu burriquito do Algarve,
tão sério como magano!
O automóvel é uma máquina
mas tu pareces humano.

Meu burriquito saltitante,
lento e burro mas turístico!
Tens talvez puco de prático
mas tens bastante de mistico!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pelé

Ele é
o Pelé!
Olé
Pelé!
Pe lê,
Pelé!
Na pela
o pé!
Ela
pele é;
ele é
pé nela.
O pé
na pela,
olé
Pelé!

Osgas

A osga
viscosa
de bojo
de rojo
a Olga
que a viu
fugiu
com o nojo

Ai, Olga
Ai, a osga!

As osgas
nojosas
molestas
e vesgas
das foscas
betesgas

Ai, Olga
Ai, a osga

E fisgam
as lesmas
e viscam
as vespas
a mascam
as moscas
e gosmam
as gigas

Ai, Olga,
faz figas!

domingo, 2 de dezembro de 2012

A toupeira e o metropolitano

A toupeira ensurdecida
disse ao metropolitano:
Passe lá por outro lado
onde cause menos dano.

Por acaso sudeceu
mudarem aquela linha,
porque, sendo pouco usada,
de modo nenhum convinha.

À toupeira outras toupeiras
deram uma medalha de ouro
por julgarem que foi ela
que acabou o desaforo.

Com uma voz de comoção,
disse que nada merecia,
e as outras censuraram-lhe
a modéstia em demasia.